Aracaju (SE) – O 2º Fórum Nacional Caravana do Esporte e Caravana da Música terminou neste domingo com um grande show da cantora Daniela Mercury, diretora presidente do Instituto Sol da Liberdade, parceiro na organização do evento, uma iniciativa da ESPN. A alegria do show, que fez o salão de convenções do Starfish Ilha de Santa Luzia Resort, em Aracaju, virar um verdadeiro carnaval, só não foi maior do que a satisfação dos organizadores com o sucesso obtido durante os três dias de encontro que teve palestras, mesas de discussão, dinâmicas e rodas de conversa.

A grande solução encontrada pelos 131 gestores municipais e professores que receberam em 40 cidades a visita das Caravanas do Esporte e da Música foi a criação de núcleos em cada município, chamados de Núcleo Movimento, um verdadeiro divisor de águas, segundo Adriana Saldanha, diretora das Caravanas.

"A Caravana do Esporte foi criada em 2005 para comemorar os dez anos da ESPN e tinha a duração prevista de apenas um ano. Depois desse tempo, não teve como acabar com o programa. Ele continuou as visitas mensais a regiões mais socialmente mais vulneráveis e se consolidou”, comentou Adriana. "Agora chegou a hora de dar um passo à frente. Temos de abrir o leque e o Núcleo Movimento é uma oportunidade única.”

Com a metodologia já implantada, os professores já têm um importante instrumento de trabalho. Estão mais capacitados e têm maior responsabilidade de montar os núcleos, de acordo com a realidade de seu município, e espalhar o esporte e a arte para crianças e adolescentes, Os 40 municípios foram divididos em 6 grupos regionais, conforme sua localização. Pela internet, eles estarão ligados em pequenas redes e conectados a uma maior, a Rede Caravana. Com isso trocarão informações e experiências para ampliar as ações em cada local.

Em 2010, serão realizados encontros com cada um destes grupos regionais, com o objetivo de monitorar o trabalho que está sendo realizado e também melhorar a capacitação dos professores. Estas reuniões facilitarão a preparação para o terceiro fórum, no final do próximo ano.

O projeto Caravana do Esporte e Caravana da Música é uma iniciativa 100% brasileira na ESPN. "Acho que é o único canal a ter seu próprio projeto social e seu sucesso não tem mais volta. Vejo as Caravanas trabalhando nos próximos 15 ou 20 anos”, afirmou Adriana, que se emocionou muitas vezes durante o Fórum com os casos de sucesso da iniciativa. Em cinco anos, as Caravanas atenderam diretamente 100 mil crianças, capacitaram 11 mil professoras e atingiram, através da rede pública, 1 milhão de crianças e jovens.

Amadurecimento - Para a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, diretora presidente do Instituto Esporte e Educação (IEE), também parceiro na realização do Fórum, deixa Aracaju satisfeita. "O movimento da Caravana amadureceu do primeiro Fórum no ano passado para este. O conteúdo foi bem completo e a ação de cada município visitado está evoluída e acima da expectativa. O 2º Fórum serve para legitimar o avanço e o núcleo movimento, que estamos criando aqui, ampliará e capacitará o atendimento nessas cidades. A verdadeira cultura do Brasil é feita em cada município, por cada um de nós.”

Rui Pavan, coordenador do escritório da UNICEF para a Bahia e Sergipe, acha que o encontro atingiu o objetivo ao fazer provocações. "Saímos do Fórum com mais sabedoria, mais conhecimento e muitos piolhos na cabeça, como definiu o filósofo Daniel Munduruku em sua palestra no sábado. O Fórum foi provocador e bem-estruturado. Deixou várias reflexões para todos. Agora é a hora de começar a luta de cada um em busca de apoios nos seus municípios.”

E deu alguns conselhos. "Precisamos juntar esporte e arte, fazer uma roda de conversa em cada cidade, envolver conselhos municipais, secretarias e vereadores nos projetos, construir grupos de trabalho que irão assumir as ações nos locais, trabalhar com prioridades e ter indicadores de avaliação.”

Alexandre Arena, coordenador pedagógico da Caravana do Esporte e do IEE, lembra que cada participante do Fórum agora tem uma responsabilidade a mais. "Cada município tem de enviar seu plano de implantação de núcleo para a coordenação da Caravana até o final de novembro. Este fórum fortaleceu a união e o compromisso entre os participantes. A mola precursora da Caravana é justamente este vínculo entre as pessoas, muitas delas voluntárias.”

Para Alice Gismonti, gerente de Negócios Sustentáveis e Inovação da Nike do Brasil, e mediadora de uma das mesas do evento, a iniciativa é elogiável. "Este movimento de fortalecer e capacitar a base comunitária nas pequenas cidades é muito louvável e importante. O Brasil precisa aproveitar este momento de grandes eventos internacionais para capitalizar socialmente a energia que eles provocam”, disse referindo-se à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016. "Precisa aproveitar o momento para o esporte como instrumento de educação e formação.”

Embaixadora do UNICEF no Brasil, Daniela Mercury defendeu o ensino da arte nas escolas. "A arte, junto com o esporte, amplia o conhecimento das crianças e, mais do que isso, motiva o aprendizado. A arte liberta e torna as crianças e adolescentes mais sensíveis.”

Recursos financeiros – No último dia do Fórum, o debate sobre a maneira de conseguir recursos para tocar projetos sociais voltados para o esporte e a arte educacionais ganhou destaque. Marcelo Nerling, doutor em Direito do Estado e professor da Universidade São Paulo no Curso de Gestão de Políticas Públicas, conduziu a dinâmica "Núcleo Movimento”, em que foram discutidas as formas de buscar verbas públicas e privadas.

Na sequência, com mediação de João Leiva, presidente da J.Leiva Marketing Cultural, ocorreu a mesa "Autonomia Municipal: Quais as possibilidades de financiamento do Núcleo Movimento?” Participaram Andrea Alfama, coordenadora da Lei de Incentivo ao Esporte do Ministério do Esporte; Roberto Nascimento, secretário de Fomento e Incentivo do Ministério da Cultura; e João Alberto Lima, da Coordenação de Ações Educacionais Complementares do Ministério da Educação.

Todos eles mostraram os caminhos e as possibilidades de financiamento de projetos via renúncia fiscal ou por dotação dos Ministérios, de acordo com as normas estabelecidas pelo governo federal em cada área.

A ideia do Núcleo Movimento em síntese é o seguinte:

- Continuidade das ações itinerantes da Caravana nos municípios, mobilizando crianças, educadores, gestores públicos, escolas, organizações e bairros;

- Implantação de políticas públicas que incentivem o esporte e a arte, enquanto estratégia de promoção humana;

- Capacitação e formação continuada de professores, estagiários, gestores, mestres populares, atores sociais e juventude

- Articulação e mobilização para implantações de ações de atendimento sistematizado

Casos de sucesso – Entre os 40 municípios atendidos pelas Caravanas do Esporte e da Música, os organizadores escolheram seis casos de sucesso para mostrar os resultados após a passagem pelas cidades. As apresentações impressionaram os participantes e coordenadores pela força de mobilização e integração entre os vários órgãos dos municípios.

Canindé do São Francisco, na divisa entre Sergipe e Bahia, por exemplo, entusiasmou-se de tal forma depois da passagem da Caravana, em novembro de 2007, que nove secretarias e outros órgãos da cidade reuniram-se e organizaram várias ações esportivas e culturais até chegar no projeto maior chamado de Caravana de Ação e Cidadania. Durante três dias de atividades esportivas, de dança e música, foram atendidas 2.300 crianças numa edição "local” da Caravana.

"O município inteiro de Canindé se uniu e agora faremos a cada ano uma nova edição da nossa Caravana. A próxima será no primeiro semestre de 2010, sem contar que criamos também várias ruas de lazer pelos bairros”, contou feliz a secretaria de Turismo Silvia de Oliveira.

São Caetano e Pesqueira, no sertão de Pernambuco, são casos interessantes e diferenciados. Os professores destas duas cidades foram capacitados durante a visita da Caravana à vizinha Arcoverde. A partir daí, levaram o aprendizado para seus municípios e iniciaram a mobilização.

Pesqueira também integrou várias secretarias para montar uma ação em praças, com ginástica, caminhada e alongamento. Logo depois, tornou fixa a atividade física na cidade e hoje cerca de 800 pessoas fazem exercícios diariamente em vários locais. Mais recentemente realizou o Festival de Esportes Educacionais e Brincadeiras atingindo 5.500 crianças em cinco polos de Pesqueira. São Caetano seguiu o mesmo caminho criando minicaravanas, um festival de atividades educacionais e diversas outras ações com esporte educacional.

Os outros três cases apresentados foram de Canarana, no Mato Grosso, Itabaiana, em Sergipe, e Senhor do Bonfim, na Bahia.

O Fórum teve a particpação da queniana Auma Obama, irmã do presidente norte-americano, e do colombiano Jaime Restrepo. Contou ainda com atletas-professores como Sócrates, Claudinei Quirino e Diogo Silva, por exemplo.

Os participantes puderam tomar contato também com músicas das raízes brasileiras, com a apresentação do Quinteto Sanfônico, do Samba de Pareia de Laranjeiras (ambos de Sergipe) e do grupo Gêge Nagô (BA), na abertura do evento, na sexta-feira, e da quadrilha junina Unidos da Asa Branca de Aracaju, no encerramento, no domingo, além do grande show de Daniela Mercury.

Cachoeiras - A água foi a linha condutora do Fórum e esteve presente em toda a cenografia montada pelo artista plástico Denny Neves, que tem licenciatura em Dança e pós-graduação em Arte, Educação e Cultura Brasileira pela Universidade Federal da Bahia. O tema foi escolhido por ser um importante bem comum, numa analogia com a infância.

Professor de artes nas Caravanas, Denny montou uma cachoeira estilizada (feita com fita de videocassete) na entrada do centro de convenções do Starfish Resort. Os participantes, descalços, podiam caminhar por um rio feito com materiais plásticos que davam a sensação de se andar sobre água de verdade.

Entre muitas fotos de crianças atendidas pelas Caravanas do Esporte e da Música desde 2005, chega-se a um cenário escuro, que remete à importância dos mangues. As "cachoeiras”, desta vez feitas com tiras de garrafas pet, também estiveram presentes dentro do auditório principal, que tinha obra que chamou muito a atenção. A partir de uma antena parabólica, ele construiu uma baiana, simbolizando a transmissão de conhecimentos. Todas as TVs de plasma e o telão principal do auditório foram "vestidos” por redes de pescar.

Iniciativa da ESPN em parceria com o Instituto Esporte Educação, Instituto Sol da Liberdade e UNICEF, o 2º Fórum Nacional teve apoio da Fundação Telefônica, Unibanco, IBM, CCR, do governo federal por meio das leis de incentivo, da Petrobrás e do Governo de Sergipe.

João Pedro Nunes – Mtb 11.675
E-mail: Nunes@zdl.com.br