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Fórum quer criar redes para disseminar uso do esporte e da música como meio de educação

08.11.2009  |    190 visualizações TERCEIROSETOR

O assunto agitou o 2º Fórum Nacional Caravanas do Esporte e da Música, que está sendo realizado em Aracaju

Aracaju (SE) – Os 131 participantes do 2º Fórum Nacional Caravana do Esporte e Caravana da Música, formados por professores e gestores públicos dos 40 municípios já visitados pelo projeto social, discutiram com muito entusiasmo maneiras de criar redes e assim disseminar o uso do esporte e da música como ferramenta de educação. O encontro, que começou sexta-feira e termina neste domingo, ocorre no Starfish Ilha de Santa Luzia Resort, em Aracaju.

Os coordenadores pedagógicos das Caravanas do Esporte e da Música dividiram os participantes em seis grupos regionais e foram convidados para responder três perguntas: Como vamos comunicar?, Como mobilizar os municípios? e Como fortalecer a rede?

O uso da tecnologia foi a principal maneira encontrada para melhorar a comunicação entre os municípios atingidos pelas visitas das Caravanas, Entre as sugestões está a criação de blogs regionais e e-mails específicos por municípios e fóruns eletrônicos.

Para a mobilização nos municípios, os participantes acreditam que a formação de grupos de trabalho seria uma maneira eficiente para disseminar a metodologia da caravana na cidade, além de criar blog sobre o tema, divulgar ações específicas e fortalecer o vínculo com as autoridades responsáveis pelas políticas públicas.

O fortalecimento da rede, via criação de núcleos ou pólos de desenvolvimento do esporte e da arte para a educação de crianças e jovens, deve ser feito pela convocação de audiências públicas, pela criação de intercâmbios regionais (microfóruns) e pelo estabelecimento de parcerias com o poder público, sociedade civil organizada, comunidade, empresariado e pais de alunos.

Após as discussões, os participantes tiveram a dinâmica "Tecendo redes”. Cada grupo, representado por uma cor, passou fios por todo o salão do evento. Com as pessoas segurando os fios coloridos foi formada uma teia, representando a rede a ser reforçada.

Os seguintes municípios estão representados no Fórum: Alcântara-MA, Soure-PA, Caarapó-MS, Boa Vista do Ramos-AM, Curaçá-BA, Formosa-GO, Palmeira dos Índios-AL, Santarém-PA, Caracol-PI, Conceição do Coité-BA, Itapecuru Mirim-MA, Dourados-MS, Itaobim-MG, Uauá-BA, Nova Olinda-CE, Salvaterra-PA, Quebrângulo-AL, Salvador-BA, São Paulo-SP, Arcoverde-PE, Buíque-PE, Pedra-PE, Pesqueira-PE, São Caetano-PE, Senhor do Bonfim-BA, Aquidauana-MS, Ibotirama-BA, Santa Cruz Cabrália-BA, Canindé de São Francisco-SE, Sorocaba-SP, Canarana-MT, Nova Iguaçu-RJ, Cachoeira-BA, São Sebastião-SP, Pintadas-BA, Itabaiana-SE, Cotia-SP, Bodoquena-MS, Embu das Artes-SP e Andaraí-BA.

Boa Vista de Ramos – Os professores João Batista Mendes Sobrinho e Maria Zenaide Fernandes mostraram um empenho muito grande para participar do 2º Fórum Nacional Caravanas do Esporte e da Música. Os dois participaram em 2005 de uma Caravana do Esporte em sua cidade, Boa Vista de Ramos, que fica a cerca de 300 quilômetros de Manaus, no Amazonas. Eles enfrentaram uma viagem de 23 horas de barco de sua cidade até a capital amazonense. Em Manaus, pegaram um vôo para o Rio de Janeiro, seguiram depois para Salvador e, por último, Aracaju. Foram quase 48 horas de viagem, saindo na quarta-feira à tarde de casa e chegando na tarde de sexta-feira na capital sergipana.

"Claro que vale a pena todo esse sacrifício. Estamos aqui para trocar experiências, aprender com as palestras e viver esse clima muito especial”, comentou João Batista, único professor de Educação Física da cidade de quase 15 mil habitantes. Ele dá aulas na Escola Estadual Maria Isabel dos Santos e, desde a Caravana de quatro anos atrás, utiliza a metodologia aprendida. "Temos um campeonato interno de basquete e estamos formando times de handebol. A nossa maior dificuldade é a falta de material para as aulas já que recebemos o necessário só a cada dois anos do governo do Estado e temos pouca ajuda da prefeitura.”

A professora Maria Zenaide trabalha com a Educação Física como voluntária já que é formada em Magistério. "Chegamos cansados aqui e partimos para o Fórum com todo o entusiasmo. É uma jornada diária longa, de mais de 12 horas, mas que compensa o sacrifício em função do aprendizado”, disse a professora que teve a viagem facilitada pela cheia dos rios no Amazonas.

João Batista e Maria Zenaide nasceram na cidade de Maués e se mudaram para Boa Vista do Ramos, que tem 26 anos de fundação. João mora lá há 22 anos, enquanto Maria vive na cidade há 9 anos. Os planos para quando voltarem para casa será incluir a música também como ferramenta de educação. "O objetivo é criar um núcleo misto de esporte e música e aproveitamento mais ainda os ensinamentos aqui do Fórum.”

Medellín – Entre as palestras, uma que chamou a atenção foi proferida pelo colombiano Jaime Restrepo, que falou sobre "O Esporte e a Cultura para o Desenvolvimento Humano na América Latina”. Coordenador político da juventude da Secretaria Municipal de Cultura de Medellín, ele contou como foi possível transformar a sua cidade, considerada a mais violenta do mundo, por causa da atuação dos narcotraficantes, na de melhor qualidade de vida da Colômbia em apenas seis anos.

"Investimos na educação, no esporte e na arte para crianças. Combatemos duramente a corrupção e com o dinheiro que sobrou e mais verbas públicas construímos escolas modernas, sem muros, agradáveis e usamos o esporte e a música como ferramenta”, lembrou. "Uma criança que aprende a tocar um instrumento nunca vai querer pegar numa arma.”

Momento de reflexão - Outro destaque do 2º Fórum foi a palestra de Daniel Munduruku, diretor-presidente do Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual. O tema de Daniel foi "Mundu Indígena – educação, cultura e diversidade brasileira” .

Nascido em uma aldeia Munduruku, Daniel é filósofo e doutor pela USP em educação e já publicou mais de 30 livros, onde procura retratar a cultura de seu povo. Ele convidou os educadores e organizadores das Caravanas a não somente incluir mais representantes de povos indígenas nas atividades, mas também na idealização das ações, que afirmou já serem indígenas em essência, porque reúnem conhecimentos diferentes em uma coisa só, em vez de compartimentá-las.

O esporte, por exemplo, tem lógicas diferentes nas aldeias. "Para os munduruku, quem chega por último ganha. Todos reconhecem que ele se esforçou em chegar. Não tem competição, tem diversão”. Uma forma de pensar que deve ser levada em consideração tanto ao tratar com crianças de povos indígenas quanto na formatação de atividades nas cidades. Afinal, entre os preceitos do esporte para todos está a diversão e ausência da competição.

Emoção de atletas e artistas - Outro momento de emoção, na noite do sábado, foi a roda de conversa com atletas e artistas. Respondendo a várias perguntas dos participantes do Fórum, houve muitos depoimentos que chegaram a tirar lágrimas dos presentes. "Fui criado num orfanato e tinha todas as condições de me tornar num marginal. O esporte me salvou e aprendi com um técnico que a gente precisa ser campeão como atleta e na vida”, comentou Claudinei Quirino, bicampeão pan-americano e medalha de prata com o revezamento 4 x 100 metros na Olimpíada de Sydney. "Sou professor da Caravana com muita honra e quando me perguntam quanto ganho para fazer isso digo sempre que é o prazer de ensinar o pouco que sei e o muito que acabo aprendendo.”

O coreógrafo de Daniela Mercury e professor de dança Jorge Silva também admitiu que escapou da marginalidade graças à arte. "Foi a dança que me tirou do meio violento em que vivia. Hoje procuro ajudar crianças e adolescentes a encontrar seus caminhos”, revelou.

O ex-jogador Sócrates, ídolo do Corinthians e da seleção brasileira nas Copas de 1982 e 1986, também revelou um momento marcante. "Meu pai, o sr. Raimundo, nasceu no Ceará e sempre teve de dar muito duro na vida, Ele foi um mascate, um sebo ambulante. Por isso, na minha casa sempre me lembro de ver e ler muitos livros. Esforçado e sem estudo, passou num dos concursos mais concorridos do Brasil, o de agente fiscal da Receita Federal. Depois fomos estudar juntos em Ribeirão Preto”, disse o Doutor, como é chamado por ser médico.

Crítico, ele acha que o Brasil tem uma grande chance de se firmar como um país mais justo nos próximos anos. "A Olimpíada será uma chance de mudar o Rio, uma cidade muito desumana. E a Copa do Mundo, um evento mais nacional, tem tudo para que o povo brasileiro se sinta valorizado.”

Diogo Silva, campeão pan-americano de taekwondô no Rio, já faz planos para defender o Brasil em 2016. O que chamou a atenção no atleta, porém, foi o novo visual: em vez das trancinhas está completamente careca. A mudança radical foi causada por sua entrada na Marinha. Ele se prepara para participar da seletiva mundial militar, que será realizada em dezembro, na França.

Iniciativa da ESPN em parceria com o Instituto Esporte Educação, Instituto Sol da Liberdade e UNICEF, o 2º Fórum Nacional tem apoio da Fundação Telefônica, Unibanco, IBM, CCR, do governo federal por meio das leis de incentivo, da Petrobrás e do Governo de Sergipe.

João Pedro Nunes – Mtb 11.675
E-mail: Nunes@zdl.com.br

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