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BRASIL 1 CHEGA EM QUARTO LUGAR NO RIO DE JANEIRO

11.03.2006  |    291 visualizações VELA

Depois de 20 dias velejando pelos mares mais perigosos do planeta, time brasileiro completou uma volta ao mundo

Rio de Janeiro (RJ) - No dia 20 de agosto de 2005, o Brasil 1 deixou o Rio de Janeiro, em direção à Europa, para a largada da Volvo Ocean Race. Neste sábado, ao cruzar a linha de chegada da quarta etapa da prova, Torben Grael e sua tripulação completaram sua primeira volta ao mundo. O time brasileiro foi o quarto colocado, atrás de ABN Amro One/HOL, Piratas do Caribe/EUA e ABN Amro Two/HOL.

O último dia da perna que começou em fevereiro, na Nova Zelândia, foi emocionante. Depois de 6.600 milhas náuticas velejadas pelos mares mais perigosos do planeta, três barcos chegaram às 100 milhas finais com menos de 15 milhas de distância. Na noite de sexta-feira, o Brasil 1 assumiu o segundo lugar, mas algumas dificuldades tiraram um lugar no pódio dos brasileiros. A chegada brasileira aconteceu às 4h55 e, mesmo assim, eles foram recepcionados por dezenas de barcos e por cerca de 300 pessoas na Vila da Regata, na Marina da Glória.

\"Não sei se estamos decepcionados, mas ficamos com água na boca. Queria ter brindado essa torcida que veio nos recepcionar por aqui. Mas estamos muito orgulhosos porque completamos nossa volta ao mundo, passamos pelos mares do Sul, fomos terceiros a passar pelo Horn. No ano passado saímos aqui do Rio, velejamos para a Europa e agora estamos em casa mais uma vez. Isso é fantástico\", disse o bicampeão olímpico Torben Grael.

Depois de velejar durante 20 dias sem praticamente nenhum problema, o Brasil enfrentou vários contratempos nas últimas horas da etapa, já bem perto do Rio. “Primeiro, vínhamos planando a 20 nós quando, de repente, o vento desapareceu. O barco ficou atravessado e precisamos de dez minutos para consertar, até colocar o barco de novo no rumo certo. Depois, enfrentamos os problemas de vela\", completa Torben. Nas últimas sete horas, foram duas velas rasgadas. “No total, são cinco velas danificadas. Estranho, já que na última Volvo, o barco em que eu velejei não rasgou nenhuma”, afirmou Stuart Wilson, o responsável pelas velas do Brasil 1.

O motivo da afirmação de Wilson é a velocidade dos veleiros como o Brasil 1. Nesta perna, todos os competidores velejaram mais de 500 milhas em um dia. Antes da criação desses barcos, nenhum barco com um só casco tinha conseguido o feito. “É claro que ainda estamos aprendendo a velejar esses barcos. Acho que seria bom trocar experiências, até com velejadores de outras equipes, para ver o que podemos fazer de diferente em certas situações. Às vezes, de tão rápido, o barco fica incontrolável”, lembra Marcel van Triest, o navegador holandês do time.

O proeiro Andy Meiklejohn tem uma maneira diferente de falar sobre a velocidade e a potência desses barcos. “Os sons que você ouve são incríveis. Se tivéssemos levado um desses gravadores, muita gente ia pensar que estávamos em qualquer outro lugar que não no barco. Quando estamos rápidos, ouvimos um som que lembra o de ratos roendo e guinchando, mas, na verdade, é o barulho da água se movendo no casco. Quando os cabos estão muito tensionados, ouvimos sons parecidos com o dos burros. No final, parece um trem desgovernado, com todos os animais tentando pular”, diz o neozelandês.

E foi justamente esse barco que entrou na história da vela brasileira. No dia 2 de março, o Brasil 1 se tornou o primeiro veleiro, em competição, a cruzar o Cabo Horn, o extremo sul do continente americano. O local é um dos mais importantes marcos da navegação mundial e cercado de lendas e mitos. \"Passar pelo Cabo Horn é um marco na vela brasileira, e ainda passamos em uma colocação excelente (terceiro lugar)”, afirma Torben. E tudo isso com um problema no cilindro que move a quilha basculante: “O vazamento em um dos pistões deixou todo mundo nervoso. A cada dia tínhamos que usar três litros de fluído dos 30 que tínhamos levado como reserva. Se nosso estoque ficasse no final, teríamos de trocar o cilindro, algo que não gostaríamos de fazer”, explica Horácio Carabelli, diretor técnico do projeto e integrante da tripulação.

A quarta etapa marcou também a despedida do norueguês Knut Frostad da equipe. Um dos chefes de turno do time brasileiro, ele só competiu nas etapas dos mares do Sul. Agora, volta à Europa para coordenar outros projetos de vela. A substituição estava prevista desde o anúncio da tripulação, em janeiro de 2005. “A experiência de velejar no Brasil 1 foi muito dura, mas aproveitei cada momento. Acho que nós merecemos melhor sorte, por tudo o que passamos e tudo o que fizemos. Mas, se você analisar bem, as pessoas que chegaram na nossa frente também merecem. Temos o ABN, que é a equipe que mais se preparou, e o Piratas, que é muito mais experiente. São detalhes, mas é um conjunto desses detalhes que fazem a diferença no final. Estamos acertando nas coisas mais importantes, mas pecando nas coisas menores e é por isso que nem tudo vira a nosso favor”, analisa o norueguês.

Logo depois da chegada, a tripulação teve um reencontro emocionado com os familiares. Os velejadores atenderam a imprensa que passou a noite na Marina da Glória esperando o final da etapa e ganharam algumas horas de descanso. Na tarde deste sábado, eles se reuniram novamente na Vila da Regata para o tradicional churrasco, que virou marca da equipe nesta regata de volta ao mundo.

Classificação da quarta etapa:
1.- ABN Amro One, 20dias01h48min23s (chegou às 00h18min23s)
2.- Piratas do Caribe, 20dias05h36min50s (chegou às 4h06min50s)
3.- ABN Amro Two, 20dias06h06min10s (chegou às 4h36min10s)
4.- Brasil 1, 20dias06h25min04s (chegou às 4h55min04)
5.- Ericsson (tem chegada prevista para o meio-dia)
6.- movistar (tem chegada prevista para o dia 15)

Classificação após a quarta perna:
1.- ABN Amro One, 49 pontos
2.- ABN Amro Two, 35 pontos
3.- Piratas do Caribe, 30,5 pontos
4.- Brasil 1, 26,5 pontos
5.- movistar, 26 (ainda não cruzou)
6.- Ericsson, 18 pontos (ainda não cruzou)
7.- Brunel, 11,5 (desistiu desta etapa)

O Brasil 1 é patrocinado por VIVO, Motorola, QUALCOMM, HSBC, Embraer, ThyssenKrupp, NIVEA Sun, Ágora Senior Corretora de Valores e Governo Brasileiro através da Apex (Agência de Promoção das Exportações do Brasil), Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Ministério do Turismo e Ministério dos Esportes e apoio especial da Varig.
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