BRASIL 1 FECHA A VOLVO E JÁ PENSA EM 2008
18.06.2006
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VELA
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Tripulação no Brasil 1
Luiz Doroneto/adorofoto
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Público na chegada em Gotemburgo
Luiz Doroneto/adorofoto
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Brasil 1
Luiz Doroneto/adorofoto
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Torben Grael
Paul Todd/Volvo Ocean Race
Diretores do time brasileiro confirmam o desejo de participar da próxima edição da regata de volta ao mundo
Gotemburgo (Suécia) Se o sinal de que um projeto deu certo é sua possível continuidade, então o Brasil 1 já pode se considerar um sucesso. Os diretores da equipe brasileira, Enio Ribeiro e Alan Adler, já estão preparando a segunda geração do Brasil 1, com um detalhe a mais: para a próxima edição, eles esperam conseguir montar uma campanha com dois barcos.
Os holandeses mostraram que tempo e dois barcos são uma boa receita para vencer. Para a próxima, esse é o objetivo. Montar dois barcos e ter duas equipes competitivas para ter chances reais de conquistar a Volvo Ocean Race, explica Alan Adler, que além de diretor foi velejador nas regatas locais.
O plano, porém, esbarra no dinheiro envolvido em um projeto tão ambicioso. O Brasil 1 2005/6, com orçamento de cerca de US$ 15 milhões, já foi um dos maiores projetos esportivos da história do país. Para fazer outro, com um barco a mais, seria necessário quase o dobro desse montante.
Temos de ser realistas de que a economia brasileira dificilmente comportará um projeto tão grande. Por isso, a idéia é fazer um projeto com outra nação, nos mesmos moldes do Brasil 1. Se pensarmos objetivamente, Portugal seria o local ideal, pela história e pela proximidade de língua e empatia, explica o outro diretor do time, Enio Ribeiro.
Comandante do Brasil 1, Torben Grael não confirmou sua participação, mas se disse aberto à opção. Realizei um sonho com essa volta ao mundo, mas acho que poderia pensar em fazer outra. Mas, para isso, precisaríamos ter um tempo de preparação adequado. Já consegui um pódio, para fazer outra, teria de ter certeza de que estaria competindo para melhorar esse resultado, disse o bicampeão olímpico.
Para decolar com o novo projeto, a equipe administrativa do Brasil 1 já esta procurando novos parceiros. Segundo Enio, para montar um time competitivo é necessário ter o orçamento fechado já em 2006. Como a próxima Volvo será em 2008 e queremos ter um bom tempo de planejamento, para um novo projeto decolar precisaríamos fechar com os patrocinadores já no final deste ano para começar a construção do novo barco em 2007.
O primeiro passo já foi dado. No último sábado, a Volvo confirmou a próxima edição da volta ao mundo, programada para começar no final de 2008, após os Jogos Olímpicos de Pequim. Essa mudança, antecipando o início e fazendo agora a Volvo a cada três anos, tem como objetivo manter o interesse de pessoas e patrocinadores pela prova, algo que, de quatro em quatros anos, não acontecia, explica Glenn Bourke, diretor executivo da Volvo Ocean Race.
Além da periodicidade, os organizadores devem mudar também o roteiro. O principal objetivo é incluir países da Ásia e do Oriente Médio no percurso, mirando mercados emergentes do Oriente além da China, Índia e do Japão. Outra novidade pode ser a passagem pela costa oeste norte-americana.
As regatas locais, novidade desta edição, serão mantidas e intensificadas. O objetivo de trazer o público mais perto dos barcos e dos velejadores e tornar a prova visível, foi plenamente alcançado.
Os VO 70 não sofrerão modificações radicais e as novas regras apenas procurarão aprimorar esta versão. Foram confirmadas também duas equipes, sem nomes divulgados, que já começam a se preparar para a próxima edição. O objetivo final é ter 10 competidores na linha de largada em 2008.
A nona edição da Volvo Ocean Race terminou no sábado, em Gotemburgo, com uma festa náutica inesquecível. Na água, cerca de nove mil barcos e dezenas de milhares de pessoas assistindo a chegada dos barcos à Suécia nas encostas, pontes e marinas.
A regata largou em novembro de Vigo, na Espanha. Nos últimos oito meses passou pela Cidade do Cabo (África do Sul), Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro (Brasil), Baltimore, Annápolis e Nova York (Estados Unidos), Portsmouth (Inglaterra), Roterdã (Holanda) e Gotemburgo (Suécia). Os barcos velejaram 57 mil quilômetros e a pioneira equipe do Brasil 1 conquistou o pódio da regata, atrás apenas dos quase imbatíveis holandeses do ABN Amro 1 e do Piratas do Caribe (EUA). O time comandado por Torben Grael ficou à frente do ABN Amro 2 (HOL), Ericsson (SUE), movistar (ESP) e Brunel (AUS).
Entrevista Torben Grael
Como você analisa o projeto Brasil 1?
Ele certamente vai ser um marco no nosso esporte. Tornar realidade um projeto tão ousado quanto uma equipe brasileira na volta ao mundo, e ainda chegar ao final com um resultado tão expressivo, é prova de que atingimos todos os nossos objetivos. É importante ressaltar também o trabalho maravilhoso do Alan e do Enio para conseguir os patrocinadores para essa aventura. Sem eles, não estaríamos aqui. Fico contente de poder dar a essas empresas esse excelente resultado e ter feito o máximo possível do investimento.
Quais foram os pontos fortes e os pontos fracos da equipe?
O ponto forte, com certeza, foi a união da equipe. Tivemos um ambiente maravilhoso a bordo e com o resto da equipe. Acertamos em nossas escolhas. Mas, como eu já disse, precisamos ainda melhorar a preparação para a regata. Temos de ter tempo para treinar e ter o barco pronto para a competição bem antes dela começar.
Quais foram os melhores e piores momentos desta edição?
O pior momento para a nossa equipe, sem dúvida, foi a quebra do mastro na segunda perna e a regata local de Melbourne, que estávamos liderando e terminamos em quinto lugar. Os melhores momentos aconteceram a partir de Fernando de Noronha, na quinta etapa, quando começamos a velejar muito bem e ultrapassamos o Ericsson quase na chegada a Baltimore e ficamos em quarto. Depois disso tivemos uma seqüência de grandes resultados e só ficamos fora do pódio uma vez. Quero destacar o pódio em Nova York e a vitória na Holanda e o segundo na regata em Roterdã.
Você acaba de completar uma volta ao mundo. Embarcaria na segunda?
Não posso falar nada com tanta antecipação. Ainda não temos certeza do formato da próxima. Outra dúvida é se vamos conseguir fazer uma participação realmente forte numa futura oportunidade. Essa participação foi coroada de êxitos. Esse terceiro lugar é um grande sucesso. Para uma nova aventura como essa, eu teria de embarcar com chances de ir ainda melhor. É claro que é uma competição e você nunca pode ter certeza do resultado, mas teria de ter os meios para melhorar. Se isso for possível, gostaria de participar. Fazer outra simplesmente para participar, eu acho difícil.
Qual a diferença do Torben que anunciou o projeto Brasil 1, em 2004, para o Torben de hoje, após a Volvo?
Primeiramente, estou mais velho e ganhei muitas rugas novas com todas essas aventuras. Para mim, particularmente, foi uma experiência fantástica. Não somente pelo lado esportivo, mas como no lado humano. Aprendi muito sobre relacionamento com as pessoas a bordo, cresci nesse aspecto e agradeço muito a todos que me ajudaram nesse processo por isso, principalmente a tripulação.
Depois de medalhas olímpicas, disputar a Americas Cup e completar uma Volvo, o que você ainda precisa realizar na vela?
Acho que ainda tenho muita coisa para fazer. Parto agora para outra Americas Cup (já na segunda-feira ele se junta, em Valência, na Espanha, ao time italiano Luna Rossa), vou tentar mais uma vez a vaga nas Olimpíadas (na classe Star, ao lado de Marcelo Ferreira). Mas, se tivesse que parar aqui, estaria plenamente realizado, com certeza.
O Brasil 1 foi patrocinado por VIVO, Motorola, QUALCOMM, HSBC, Embraer, ThyssenKrupp, NIVEA Sun, Ágora Senior Corretora de Valores e Governo Brasileiro através da Apex (Agência de Promoção das Exportações do Brasil), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério do Turismo e Ministério dos Esportes e apoio especial da Varig.