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TORBEN GRAEL APOSTA NO BRASIL 1 PARA AS PRÓXIMAS ETAPAS

10.02.2006  |    99 visualizações VELA

Para o bicampeão olímpico, dificuldades enfrentadas nas últimas semanas fortaleceram o grupo

Melbourne (Austrália) - Os problemas enfrentados recentemente só serviram para fortalecer a equipe do Brasil 1. A garantia é do comandante Torben Grael, animado com o bom desempenho do barco na in-port race de Melbourne, no dia 4, quando o primeiro veleiro brasileiro na Volvo Ocean Race, recém-consertado e sem testes, liderou a maior parte da regata local. O bicampeão olímpico conta nesta entrevista que a tripulação está ansiosa para a largada da próxima etapa, que parte da Austrália na madrugada do dia 12, no horário de Brasília, em direção a Wellington, na Nova Zelândia, e de lá para o Rio de Janeiro, no dia 19.

Torben Grael, que realiza um grande sonho ao participar da competição, comenta alguns dos momentos mais difíceis vividos pela tripulação nesta tradicional regata de volta ao mundo. Fala também da dura decisão de substituir Marcelo Ferreira, seu amigo e companheiro de mais de 20 anos de classe Star.

Para a próxima etapa, entre Melbourne e Wellington, os barcos que disputam a Volvo Ocean Race velejarão 1.450 milhas náuticas, ou cerca de 2.680 km, que devem ser completados em menos de quatro dias. A perna, a segunda menor de toda a Volvo, vale os mesmos sete pontos para o vencedor das outras etapas. No dia 19, os barcos iniciam o trecho mais longo, de mais de 12.400 km até o Rio, passando pelos mares do Sul e o temível Cabo Horn. A chegada à Marina da Glória, na Baía da Guanabara, é prevista para o dia 12 de março.

Como você avalia o desempenho do Brasil 1 até agora?
O desempenho do barco tem sido ótimo. Navegamos de modo confiante, procurando tirar o máximo do desempenho do Brasil 1 sem expô-lo a riscos exagerados.

E como estão os outros barcos?
Temos sempre boa velocidade em relação aos barcos iguais ao nosso. Já os barcos holandeses, que têm um modelo diferente, levam certa vantagem nas regatas longas em condições de ventos fortes. Mas se existem condições em que eles são rápidos, nós somos mais velozes em outras. Nós demos provas disso na última regata local, quando lideramos grande parte da prova. Estamos todos ansiosos para voltar a velejar.

Vocês não pareciam felizes quando terminou a in-port race de Melbourne, no sábado. Por quê?
Acho que se você chega lá, nas condições em que estávamos, luta pelo quinto lugar e consegue, você acharia excelente. Mas se você faz 80% da regata na frente e chega em quinto, é claro que não vai achar tão bom assim. Quando as coisas encaixam e você consegue fazer exatamente o que estava na sua cabeça, a expectativa cresce. Se errar, tudo bem. Mas quando consegue fazer o melhor possível, acerta tudo e ainda assim é quinto, é um pouco decepcionante.

O que aconteceu com o Brasil 1?
O mastro foi montado rapidamente e os reparos terminaram muito em cima da hora. Quase não conseguimos largar para a in-port. No começo, o vento estava mais fraco e fomos bem. Acertamos as primeiras pernas e montamos a terceira bóia junto com o ABN. Quando estávamos nos preparando para levantar a vela balão, para a quinta perna, percebemos o problema no sistema hidráulico da quilha.

Como foi a reação do time?
Quem estava aprontando a vela correu para tentar resolver o problema da quilha. Nessa hora, tudo saiu fora dos eixos. Quando o balão foi para cima, estava torcido. Seria rápido colocar nosso outro balão grande, mas ele rasgou quando perdemos o mastro e ainda não havia sido consertado. Tivemos de subir um balão menor. Além disso, não conseguimos resolver o problema da quilha e fizemos metade da regata com ela movendo apenas a metade do que pode.

E ainda assim, vocês lideraram a maior parte da regata e conseguiram chegar em quinto.
Acho que demos mostras do potencial que temos. Espero que os problemas diminuam de agora em diante. Passamos por momentos difíceis e daqui para frente as coisas tendem a melhorar. Já corrigimos muitos problemas do barco. Alguns poderíamos ter previsto. Já outros, aconteceriam com qualquer equipe.

Como motivar a tripulação depois de tantos problemas?
Apesar de todos esses contratempos na última etapa, estamos motivados. A tripulação está ansiosa para a regata e bastante confiante nas modificações por que o Brasil 1 passou. Sabemos que é uma etapa importante porque seguiremos em direção ao nosso país e queremos fazer bonito. Com um bom resultado nessa etapa, podemos voltar a ocupar uma boa colocação no geral.

Mas você teve que reerguer o moral do time, não?
Quando saímos de Port Elizabeth e voltamos à segunda perna, todos estavam motivadíssimos, considerando certa a nossa decisão de continuar velejando - e ainda estávamos indo muito bem. Já tínhamos tirado 500 milhas para o barco australiano, quase um terço da distância entre nós. O pessoal estava com o astral bem legal. Mas quando o mastro quebrou, é claro que desanimamos. Sabíamos que era o fim daquela etapa.

Qual será o papel do Horacio Carabelli a bordo do barco, nas próximas etapas?
A etapa de Wellington para o Rio será talvez a mais difícil de todas. Há bastante tempo queríamos o Horacio a bordo do barco, mas como ele coordena também os trabalhos em terra, ficaria complicado para ele acumular as funções. Depois de todos os contratempos que tivemos, na última etapa e na regata local, ficou óbvio que precisamos dele a bordo. Tivemos pouco tempo para preparar o barco ou testar tudo. Com o Horacio, temos a garantia de que, se algo quebrar e puder ser consertado ao mar, temos a melhor pessoa para fazer isso a bordo.

E a decisão de deixar o Marcelo fora do time?
Essa foi a decisão mais difícil do projeto. Ele é um grande amigo meu e somos parceiros há muito tempo. Mas ele foi o primeiro a colocar o posto dele à disposição quando se começou a cogitar a entrada do Horacio no barco e ficamos muito gratos por isso. É fácil conversar com ele sobre algo assim, mas foi uma das reuniões mais tensas que eu já fiz.

Qual foi o pior problema já enfrentado pelo Brasil 1?
O problema estrutural do começo da segunda etapa foi um contratempo desagradável porque estávamos numa ótima situação na regata. Foi resolvido relativamente rápido e não trouxe grandes prejuízos para a estabilidade do barco. Já o problema com o mastro foi muito mais difícil de lidar porque o veleiro realmente perde toda a condição de navegação. Some a isso um grande esforço de logística para que você tenha um mastro novo colocado, pronto para a etapa seguinte. A quebra do mastro foi muito mais negativa.

Por que o barco enfrentou tantos problemas?
Essa é uma nova classe de barcos. É a primeira vez que esse tipo de veleiro (Volvo 70) está na água e, obviamente, as equipes estão pisando um pouquinho no desconhecido. Não foi só o Brasil 1 que teve problemas, todas as equipes tiveram, inclusive a holandesa, que vem liderando (ABN Amro One). A vantagem que a equipe holandesa tem é que eles começaram o trabalho um ano e meio na nossa frente. Eles tiveram a maioria dos problemas antes da regata e tiveram tempo de corrigir e reforçar o barco. Mesmo assim, tiveram problemas de estrutura do barco na primeira e na segunda etapa, só que por sorte em uma área não tão importante como a dos problemas que enfrentamos. Não danificou estruturalmente a integridade do barco.

Eles parecem ser sempre mais rápidos do que os outros.
Acho que é uma questão de confiança. Quando as etapas começam e você vê um barco projetado pela mesma pessoa que fez o seu ter problemas, você tira um pouco o pé. Eles só começam a tirar o pé lá para o meio das etapas.

O Brasil 1 pensa em adotar alguma tática mais ousada ou até mesmo arriscar para diminuir a diferença para os ABNs?
O que tivemos não foi problema de estratégia. Acho que não devemos alterar a maneira como estamos velejando. Os dois problemas não foram causados por excesso de arrojo. Vamos continuar fortes.

Você confia no Brasil 1?
Conhecemos muito melhor o barco hoje. Cada vez que ele pára em um porto, há uma lista enorme de coisas para se fazer, sempre para melhorar a performance, a confiabilidade e o desempenho. O ideal seria ter feito isso um ano antes da regata. Porém, nosso projeto começou bastante próximo do inicio e a gente tem feito o melhor possível para chegar ao nível dos holandeses.

É possível alcançar os líderes?
Tem muita regata ainda pela frente. Se as condições, de certa forma, favoreceram o barco número um dos holandeses, elas podem mudar daqui para frente. Vamos ver o que acontece. Tenho bastante confiança na performance do Brasil 1. Vamos ver se acertamos um pouquinho e acabam os nossos problemas.
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