Jovens atletas paulistas superam adversidades e mostram talento no Estadual Menor

São Paulo (SP) - O Campeonato Estadual Governo de São Paulo/Caixa Menor realizado neste fim de semana (29 e 30), no Complexo do Ibirapuera, em São Paulo, mostrou que a nova geração do atletismo paulista que tem muita garra e determinação. Os jovens, com faixa etária entre 16 e 17 anos, ainda estão amadurecendo, mas alguns já superaram as adversidades do cotidiano e chegaram ao lugar mais alto do pódio. Um exemplo é Fulviano Soares de Campos, campeão nos 10.000m marcha atlética, com o tempo de 51min46s32, novo recorde paulista da categoria. O marchador de 17 anos do Centro de Excelência Esportiva (CEE) comenta que muitas vezes durante o treino no clube Joerg Bruder, jovens que passavam pela pista faziam brincadeiras sobre a modalidade que ele praticava.

"A marcha atlética ainda é uma prova pouco conhecida. Comecei aos catorze anos, no começo não gostava das piadas, mas agora já estou mais acostumado com o preconceito. Pretendo seguir carreira no atletismo, meu sonho é estar em uma Olimpíada, assim como meu ídolo, o Carlos Bonfim", comenta o atleta, que assumiu a quarta colocação no ranking da CBAt na prova, classificando-se para o Campeonato Brasileiro da categoria, que será no mês de outubro.

Muitos jovens também têm que lidar com problemas familiares e mesmo assim conseguem manter a mente sã para continuar praticando esportes. Bruno Henrique Santos Amaral, também atleta do núcleo Joerg Bruder do Centro de Excelência, é filho adotivo e vive no Jardim Ângela, um dos locais mais violentos da capital paulista. Sua mãe biológica o doou para uma amiga chamada Imirene quando ele tinha 4 meses de vida. Dois meses depois, a progenitora acabou assassinada e desde então ele vive com Imirene e Valdir, seus pais de criação. Os dois sempre incentivaram a prática esportiva e Bruno começou a carreira aos 10 anos no clube alemão situado em Santo Amaro.

"Faz cinco anos que estou no Joerg Bruder e quero muito representar o Brasil em competições internacionais. O Centro de Excelência me oferece uma ajuda de custo e com isso posso ir treinar diariamente. Me inspiro bastante na Lucimara Silvestre, acho ela uma ótima atleta", diz o velocista de 15 anos, que competiu nos 100m e 200m.

Já Jonathan Jesus dos Santos, campeão estadual no lançamento de dardo (56m32) enxergou no esporte uma forma de se afastar da marginalidade presente na Vila dos Pescadores, uma comunidade situada em Cubatão, litoral sul de São Paulo, onde reside.

"Tenho vários amigos que foram para o caminho errado, caíram nas drogas, mas eu pretendo seguir carreira no atletismo, quem sabe até ser técnico. Fui para o atletismo por incentivo de um primo meu. Espero um dia chegar a um Campeonato Mundial e nos Jogos Olímpicos. Moro a 8 quilômetros do clube, vou para lá de bicicleta, treino de segunda a sábado, das 14h às 18h, e quando sobra tempo ajudo minha mãe de criação na barraca de refeições", conta o lançador de 17 anos do E.C. Cubatão/Centro de Excelência.

Um dos problemas mais recorrentes no cotidiano desses atletas, bem como de muitos espalhados pelo Brasil, é a falta de recursos para treinar. "Já recebi ajuda de amigos para poder ir treinar no Joerg Bruder. Moro no Jardim Jaciara, zona sul de São Paulo, com minha tia, empregada domestica. Minha mãe está desempregada. Acredito no meu potencial, espero ser um atleta de elite", relata Lucas Lopes Dias, de 16 anos, atleta do Instituto Memorial do Salto Triplo/Centro de Excelência, que competiu nos 100m e 400m com barreiras.

Os atletas do interior do estado também precisam vencer as dificuldades. "Lá na minha cidade nós treinamos em uma pista de carvão cheia de buracos, temos uma estrutura bem simples, é complicado para treinar nas nossas condições, mas acredito que tudo vai melhorar, a prefeitura local tem nos ajudado, e lá somos uma família, esse é o nosso diferencial", comenta Julia Graziela da Palma Oliveira, sexta colocada no salto triplo (10m55), atleta de Pindamonhangaba.

O Campeonato Estadual Caixa/Menor é uma realização da Federação Paulista de Atletismo. O patrocínio é da Caixa, com apoio do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude, e da Prefeitura Municipal de São Paulo.

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