Vanuatu, a Terra eterna do povo mais feliz do mundo
16.10.2008
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VELA
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Vulcão
Maristela Colucci
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Beto Pandiani
Maristela Colucci
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Parada em Vanuatu
Maristela Colucci
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Dupla arruma o barco
Maristela Colucci
Os velejadores Beto Pandiani e Igor Bely saíram do Chile para a Travessia do Pacífico rumo à Austrália, mas tiveram de parar em Vanuatu por problemas no barco
São Paulo (SP) - Tempestades, ondas gigantes, avarias e escalas não programadas já haviam marcado a trajetória dos velejadores Beto Pandiani e Igor Bely na Travessia do Pacífico, que vai conectar o Chile à Austrália. Uma quebra no parafuso da travessa frontal do barco um catamarã sem cabine de sete metros - quase os fez pedirem resgate e os levou a uma nova parada. A peça, trincada, revelou a necessidade de reparos que obrigariam o barco a ficar por dois meses em Vanuatu. Os dois tripulantes só não imaginavam que o conjunto de 83 ilhas próximas da Austrália, não por acaso batizado de terra eterna, foi também o destino dos primeiros aventureiros do planeta a cruzar aquelas águas.
Séculos antes dos polinésios, os lapitas partiram em suas canoas com o desejo único de conhecer as terras além do horizonte. Ainda hoje, sua língua, costumes e cultura se fazem notar nas ilhas da região. Além das belíssimas praias e florestas assentadas sobre ilhas vulcânicas de clima tropical, Vanuatu marca pelo espírito cosmopolita de seu povo, tido como o mais feliz do mundo. Impossível passar um único dia ali sem receber sorrisos e acenos de mãos de todos os habitantes que cruzam o seu caminho.
Cultura cosmopolita
Uma babel de 113 dialetos se mistura nas ruas com os três principais idiomas do país - francês, inglês e bislamá (língua crioula derivada do inglês) e dá o tom do que se pode encontrar ali. A capital Port Vila está localizada ao redor de uma baía natural e, a despeito dos resquícios da ocupação colonial estampado em prédios e casas antigas, é a face internacional do país. Única cidade grande da ilha de Éfate, abriga o aeroporto que, a pouca distância de todos os principais hotéis e resorts, integra uma eficiente infra-estrutura turística disponível para todos os gostos (e bolsos).
Limpa e bem cuidada, a cidade ainda reflete sua vocação para a diversidade cultural no estilo dos restaurantes e cafés são mais de 40, entre franceses, vietnamitas, chineses, japoneses, italianos, mexicanos, tailandeses, mediterrâneos e, claro, melanésios. Alguns oferecem apresentações musicais, nativas ou importadas. Longe deles, a vida noturna é representada pelo cabaré Flamingo, o charmoso cassino do Le Meridien Resort e um cinema. Se quiser tudo isso, mas com um clima um pouco mais fresco, favorecido por ventos que aplacam o calor tropical dominante, vá à Lunganville. Localizada na Ilha do Espírito Santo, é a segunda maior do país e segue as características da capital.
Para conhecer a cultura local, a dica é o Centro Cultural, que abriga um museu de máscaras, figuras de madeira e todo tipo de artigos tradicionais, além de uma grande variedade de aves, insetos dissecados e fotos antigas das ilhas. Mas, se quiser entender mais a fundo o povo melanésio, dê um giro pelo interior das ilhas. Em meio a lugares como o Bairro Francês e o Parque da Independência, típica paisagem inglesa onde se joga cricket, e em torno das florestas e vulcões, pontuam inúmeros casebres.
Mais do que sintoma da pobreza da nação, eles revelam um modo de vida que perdura, alheio a qualquer influência ocidental. Preste atenção nas danças e rituais mais visíveis na ilha de Tanna que dizem muito sobre quem são e em suas criações de porcos. Vivendo sobretudo do manejo desses animais, os vanuatuenses preservam uma espécie de sistema de castas, onde os mais ricos não são aqueles que possuem mais bens, mas os que podem doar mais. Por isso, não se espante se, ao participar de uma de suas festas, repletas de música, fartura e exuberância, você receber um suíno de presente!
Tanna
Talvez uma das mais fortes experiências guardadas para quem chega a Vanuatu esteja em seus vulcões, ainda bastante ativos. Em Tanna, os mais corajosos podem apreciar in loco o espetáculo assustador das erupções. O Yasur chega a expelir lava em intervalos de até 20 minutos. Vimos subir bem à nossa frente pedras imensas de lava, que eram cuspidas para o alto e jogadas longe, contou Pandiani sobre sua visita ao lugar. Para chegar até ele, é preciso resistir a uma viagem de duas horas por uma estrada irregular de terra, a bordo de um carro vale a pena.
Santuário dos esportes radicais
Com um arquipélago rodeado por um dos maiores e mais ricos bancos de corais do planeta, era de se esperar que Vanuatu atraísse os esportes aquáticos. O Recife Black Sand, na Baía Mele, reserva aos mergulhadores grandes emoções em suas cavernas, túneis e saliências coralíneas. Não por acaso é o local mais popular do país, disputando as atenções com Gotham City, um recife colorido que possui uma grande quantidade de peixes-morcego.
Havannah Harbor, ao norte da ilha de Éfate, utilizado como base naval norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial, é uma visita indispensável. Da baía de Port Vila, é possível avistar Ifira que abriga uma das mais interessantes culturas nativas e reserva em Pango Point, o espaço ideal para o surfe. E uma infinidade de rios, cascatas, lagoas e baías arenosas, além do vasto oceano de todos os matizes de azul, inspira a prática de scuba diving, natação, snorkeling, caiaque, windsurfe e vela.
Naghol
Mas nenhum esporte aquático praticado em Vanuatu é tão radical quanto o que se vê na Ilha de Pentecostes. O naghol é um verdadeiro mergulho na terra. Precursor do bungee jumping, atrai todos os anos milhares de pessoas, fascinadas pelo espetáculo praticado há vários séculos para comemorar a colheita do inhame, entre abril e junho.
Preparados desde a adolescência para o ritual, os melanésios se jogam do alto de uma torre de madeira de 30 metros, semelhante a um andaime, amarrados pelos tornozelos a um tipo especial de cipó - talvez por influência da umidade maior nessa época do ano, a planta se torna elástica. Ao pular, seus cabelos devem "varrer" o chão para garantir a fertilidade do solo.
Foi o neozelandês A.J. Hackett que popularizou o ritual como esporte, nos anos 1980, ao levá-lo às pontes da Nova Zelândia. Hoje, o salto mais alto, de 216 metros, é realizado na Bloukrans Bridge, na Rota dos Jardins da África do Sul.
Eco da ancestral cultura lapita, o Naghol reforça o espírito aventureiro que levou os primeiros velejadores do Pacífico Sul a Vanuatu, tornando-a sua terra. E é desse lugar que Beto Pandiani e Igor Beli partirão no final de outubro, com o barco já consertado, para cumprir as mil milhas restantes até a Austrália, num total de 17.400 quilômetros navegados, levando consigo o mesmo desejo dos primeiros velejadores.
Vanuatu
- Idioma: bislamá, inglês e francês
- Moeda: vatu
- Clima: tropical úmido
- Fuso horário (UTC): +11 (12)
Antes de viajar
- É necessário visto para uma permanência de até 30 dias a passeio.
Não há representação consular no Brasil.
Embaixada: 866, United Nations Plaza, 3RD Floor NY 10017 USA.
Fone: (202) 593 0144
Fax: (202) 593 0219
Como chegar:
De avião:A Air Vanuatu tem vôos para Port-Vila saindo de Sydney e Brisbane (Austrália), Nouméa (Nova Caledônia), Honiara (Ilhas Salomão) e Auckland (Nova Zelândia) a partir de U$ 320. Visite o site: www.airvanuatu.com
De navio: A Royal Caribbean oferece um cruzeiro no navio Rhapsody Of The Seas, partindo de Sydney, na Austrália, com escalas em Nouméa, na Nova Caledônia, Luganville e Vila, em Vanuatu, e Ilha De Pins, na Nova Caledônia a partir de U$ 470. Visite o site: www.royalcaribbean.com.br
Para saber mais a respeito de pacotes turísticos e locais onde se hospedar, acesse também: www.vanuatuescapes.com.au
A Travessia do Pacífico
A Travessia do Pacífico foi iniciada em outubro do ano passado e teve a primeira etapa entre Viña Del Mar, no Chile, e Mangareva, na Polinésia Francesa, com uma única parada na Ilha de Páscoa, depois de 7 mil quilômetros velejados em 31 dias.
A expedição foi interrompida por três meses, esperando o término da temporada de furacões na região. Aproveitando a pausa, a dupla de velejadores lançou no final de março o primeiro DVD da expedição e retornou para a Polinésia em abril, recomeçando a aventura com destino a Austrália.
Depois de passar por Fakarava, Taiti, Morea, Ilhas Cook e Tonga, Beto e Igor seguiram para a Nova Caledônia, última escala da Travessia. Na metade do caminho, porém, enfrentaram ventos fortes e tiveram problemas com o catamarã. Pararam em Vanuatu, a cerca de mil milhas da Austrália, para arrumar o barco.
Como as condições de vento na região pioraram, eles resolveram fazer nova pausa e esperar até o início de novembro, quando melhoram as condições do tempo. A dupla está retornando a Vanuatu no final de outubro e deve percorrer o trecho final de 1.800 quilômetros até a Austrália na metade de novembro, concluindo a aventura de 17.400 quilômetros pelo Oceano Pacífico.
A Travessia do Pacífico tem o patrocínio máster de Semp Toshiba, com patrocínio de Mitsubishi Motors, Fnac, Yahoo! Brasil, Ferrari Stamoid, Red Bull e Mantecorp. Os apoios são da Rede Accor Hospitality, Santaconstancia, North Sails, BL3, Reebok Sports Club, Yacht Club de Ilhabela, Osklen, Sigg, Barracuda, Holos e Arycom.
Para acompanhar todos os momentos da viagem, acesse o site oficial da Travessia do Pacífico: www.yahoo.com.br/travessia
Os velejadores
Beto Pandiani - brasileiro, 51 anos
Há 13 anos realiza expedições de alta performance pelos mais temidos mares do mundo. Foi o primeiro velejador a unir a Antártica ao Ártico a bordo de catamarãs em cabine.
Igor Bely - francês, 24 anos
Viveu 18 anos a bordo do veleiro dos pais. Com mais de 200 mil milhas (quase 400 mil km) navegadas, já fez mais de 20 expedições à Antártica e regiões polares.
Juliana Leite / João Pedro Nunes - Mtb 11.675
E-mail: zdl@zdl.com.br