O marroquino Hicham El Guerrouj, de 29 anos, é considerado o melhor meio-fundista da história, um verdadeiro fenômeno do atletismo moderno. Recordista mundial dos 1.500 metros (3min26s00), da milha (3min43s13) e dos 2.000 metros rasos (4min44s79), ele prepara-se para tentar conquistar a sua primeira medalha de ouro olímpica, em Atenas. Dono de centenas de títulos importantes, o ouro nos Jogos é o único resultado importante que falta na vitoriosa carreira deste ex-zagueiro, apaixonado por futebol.

Entrevista

Você tem dominado os 1500 metros por muitos anos. O que representaria ganhar a medalha de ouro em Atenas?
Hicham - Claro que me sinto no momento um atleta de ponta. Mas como não sou um campeão olímpico, não me sinto um atleta dominante, apesar de vencer esta prova desde 96. O que posso dizer realmente é que estou irritado por não ser um campeão olímpico. Estou trabalhando duro para essa medalha, de corpo e alma. E, de todo coração, espero que eu possa entregar toda a minha energia física e mental.

Você mudou seu treinamento para a Olimpíada de Atenas. Fez coisas diferentes de outros anos?
Hicham - Acho 2004 um ano muito importante e por causa de problemas de saúde tive de mudar o treinamento em comparação aos outros anos. Estou me concentrando nos 1.500 metros. No ano passado, treinei para os 1.500 e os 5.000 metros. Agora, só estou me preparando para os 1500 metros, embora ainda vá correr ambas as distâncias.

É difícil conciliar as duas provas?
Hicham - É muito difícil. Tento me concentrar mental e fisicamente para cada uma delas. Os 1.500 metros são a prioridade. É uma prova muito importante para mim, para meu país, para minha nação, para todos meus admiradores. Perdi dois Jogos Olímpicos e agora estou me preparando para ganhar duas medalhas de ouro.

Como se mantém motivado desde 96?
Hicham - O que me faz continuar correndo é a paixão pelo esporte e o respeito pelos meus adversários. O incentivo de minha família, de uma nação toda. Treino muito porque sou muito sério. Fico muito feliz correndo. Fico chateado quando não corro. Acho que esses são os pontos que me fazem correr.

Quando corre, você leva em conta seus oponentes ou se concentra apenas em você mesmo?
Hicham - Antes de cada corrida há uma estratégia, um preparo psicológico. É claro que cada atleta é submetido a um preparo diferente. Pessoalmente, sou submetido a um incrível preparo psicológico antes de entrar num estádio. Tento me concentrar na minha corrida, na minha estratégia, nos meus adversários. Toda vez que entro num estádio, tenho a sensação de que meus adversários estão com medo de mim, estão com medo da corrida. Eu sinto esse medo. Tento me concentrar em ser o número 1 e vencer.

Como você faz para tentar controlar uma corrida desde o começo, isso é algo planejado?
Hicham - Sempre que eu corro, nunca penso nos meus oponentes. Sempre penso em vencer. Para fazer meu melhor, para me dedicar a essa corrida, que é uma corrida nobre, algo a que ninguém mais se dedicou. Por isso, tento fazer o máximo para oferecer o melhor espetáculo para os espectadores. E para que essa corrida fique na história, o que é muito importante para mim, para toda uma geração que me acompanha, e para os meus filhos, para que eles se lembrem de mim e de minha história.

Por que a prova da milha é tão especial para você?
Hicham - Porque é uma das melhores corridas, uma das mais nobres. E porque há toda uma história americana, inglesa, norte-africana. Depois de Said Aouita, Steve Cram, Sebastian Coe… Estou mencionando os grandes nomes, depois desse tipo de atleta, a milha mudou completamente. Cada atleta tem uma maneira diferente de correr, flexibilidade, velocidade, ritmo, estratégia.

A campanha publicitária da Nike é sobre velocidade. Explique como você se prepara para alcançar a chegada nos últimos 300 metros de maneira que ninguém possa ultrapassá-lo. Você levanta pesos para conseguir essa força?
Hicham - Sinto-me feliz quando corro. Não em uma academia. Numa academia me sinto preso. Embora o treinamento com pesos seja uma parte importante de nosso treinamento. Treino muito na estrada, na natureza, sou como um pássaro que voa e faz tudo o que gosta. Tento treinar duro todo dia. Ser profissional o tempo todo. Tentar melhorar meu ritmo, minha velocidade, tentar melhorar meu corpo para que seja o mais rápido possível.

Como é o seu dia normal de treinamento?
Hicham - Meu dia é totalmente diferente dos outros. Para começar, acordo tarde pois vou me deitar tarde. Acordo por volta das 10h00, 10h15. Tomo café da manhã por volta das 10h30. Vou treinar por volta do meio-dia. Então, percorro de 14 a 17 quilômetros. Depois vou para casa, me alimento, durmo por uma ou duas horas. Acordo em torno das 17 horas para minha segunda sessão de treinamento, seja levantamento de peso, trabalho na pista. Vou para a casa, faço uma sessão de massagem, me alimento e vou me deitar.

Quando você era jovem, tentou outros esportes?
Hicham - Sim.

O que você fez?
Hicham - Eu era um dos melhores zagueiros da minha cidade. Sou fã de futebol.

Quando não está treinando, o que faz para relaxar? Você escuta música?
Hicham - Vejo várias fitas de corrida, leio vários livros, passo bons momentos com minha esposa.

Quando você descobriu que poderia correr muito rápido, que você era muito superior? Quando percebeu que sua velocidade é significante?
Hicham - Quando tinha 14 ou 15 anos. Meus amigos e eu íamos correr nas redondezas. Eles tentaram me convencer de que eu deveria começar a treinar. E eu nunca estava interessado. Três anos depois estava no Campeonato Mundial. Cheguei em terceiro. Então comecei a sentir que deveria ser um dos melhores atletas do mundo.

Além do esporte, o que você faz com velocidade?
Hicham - Eu dirijo muito rápido e posso pegar no sono em uma fração de segundo. Isso é bom.